Os índios do Equador defendem a redistribuição da terra, o direito à água e a protecção da biodiversidade como elementos essenciais para combater as alterações climatéricas. Delfin Tenesaca, que lidera o maior grupo dos Ecuarunarinos [grupo de origem Kichwa, uma das línguas antigas faladas na região andina], vê a mudança do clima como um assunto social urgente que só poder ser abordado pelas comunidades organizadas. Mesmo no Equador, localizado na linha do equador e bastante protegido da mudança climática pela floresta tropical amazónica, os glaciares estão derretendo rapidamente e a precipitação diminuindo gradualmente. Para os indígenas, a “Pachamama” ( ou a Mãe Terra) está doente. Nós estamos entrando em um período de “vaciacad”, ou melancolia e precisamos abraçar “Sumak Kawsay”, a boa maneira de viver e restaurar o balanço da Mãe Terra, diz Tenesaca. Traduzindo, isso significa que o mundo precisa abandonar as políticas neoliberais que favorecem os ricos. É preciso redistribuir a terra, tornar universal o direito à água e proteger a biodiversidade. Qualquer outro meio resulta em mudanças climáticas, pobreza e desigualdade. Indígenas por toda a América Latina estão ganhando confiança. Eles encabeçam a nova filosofia política, emergindo desde a Bolívia até a Venezuela. A mudança climática – especificamente o direito à água – é um tema central para a revolução política em curso. Um dos arquitetos da constituição equatoriana é Humberto Cholando, o homem cotado para liderar todos os povos indígenas andinos. Este intelectual e produtor de cebolas, amigo do presidente boliviano Evo Morales, divide quatro hectares com o seus oito irmãos nas encostas nevadas do vulcão Coyambe. Além disso, liderou uma marcante batalha para proteger e prover água de milhares de pequenos agricultores. O povoado, por meio do consenso e sem a ajuda dos governos central ou regional, redistribuíram terras e o acesso à água, de modo a conservar as pastagens nas grandes altitudes da montanha ( que atuam como uma esponja gigante), aumentando o abastecimento de água em 10%, além de reparar milhares de aquedutos. Esse é o modelo de “Sumak Kawsay”. Se ele fosse um projeto do Banco Mundial, teria custado bilhões e provavelmente não teria sucesso.
Fonte: Guardian